sexta-feira, 24 de junho de 2011

PRETO NO BRANCO



Amigos e leitores parecem surpreendidos com a minha complacência face ao próximo governo. É muito simples. Passos podia feito feito um governo de trauliteiros mas, em vez disso, fez um governo normal. Isso marca a diferença. Deixando de fora o Senhor Pintelhos (Catroga) e a infindável troupe de treinadores de bancada de que Mestre Cantiga (o Esteves) é o paradigma encrespado, Passos decepcionou os Clubes, perdão, os blogues mata-e-esfola.

Verdade que não é o governo ideal. Mas nada nos garante que o fosse caso as luminárias que andam a vender à imprensa (as suas) putativas negas tivessem aceite o desafio. Verdade que Miguel Relvas e Paula Teixeira da Cruz, dois comentadores de Crespo, desequilibram o conjunto. Sinais: Relvas fica com rédea curta; o lobby da Justiça pode dormir em paz. Tudo é preferível a ver o Senhor Pintelhos (Catroga) a fazer o anedotário dos corredores de Bruxelas.

Vítor Gaspar à frente das Finanças, como n.º 2 do governo, é uma boa escolha. Conhece bem os cantos à Comissão Europeia, Banco Central Europeu (onde foi director) e Banco de Portugal. Ninguém o conhece nos Clubes, perdão, nos blogues? E quem é que conhecia Cavaco quando em Janeiro de 1980 Sá-Carneiro fez dele ministro das Finanças e do Plano do VI governo constitucional?

Nuno Crato na Educação é um factor de irritação para Mário Nogueira. Isso já é ganho. Crato vem do marxismo-leninismo puro e duro: foi dirigente do PCP (M-L) e, a seguir do PC (R). A rapaziada pensa que ele é um liberal à moda antiga, mas engana-se. Foi capaz de trocar o cargo muito bem remunerado de CEO da Taguspark pelo de ministro. Deu uma lição aos patriotas de água benta.

Paulo Macedo na Saúde também me agrada. Tem a obrigação de não deixar afundar o SNS. Capacidade técnica não lhe falta. Antes da posse devia explicar (ou desmentir) alegadas ligações à Médis.

Álvaro Santos Pereira terá de provar na real as teses dos livros que escreveu (e li com agrado). Gerir a Economia, o Emprego e as Obras Públicas vai ser equivalente a neutralizar os hooligans que puseram Vancouver a ferro e fogo há dois dias. Esperar para ver.

Miguel Macedo, um homem cordato, vai mandar na polícia. Aguiar-Branco passará a ser tratado (na Foz Velha) por Almirante. Assunção Cristas não vai ter tempo para a missa. Pedro Mota Soares é capaz de não levantar muita poeira na Segurança Social. Luís Marques Guedes e Carlos Moedas, ambos no inner circle do primeiro-ministro, são o exacto oposto de ter nos mesmos lugares criaturas como Rui Crull Tabosa e Carlos Abreu Amorim. Passos percebeu que tem de governar com gente educada e agiu.

Por último mas não em último, a Cultura. Não me impressiona o downgrade de ministério para secretaria de Estado. Escrevi muitas vezes que não deve existir ministério da Cultura, opinião que mantenho. A escolha de Francisco José Viegas (sim, somos amigos há mais de 20 anos) é um sinal inequívoco de abertura de espírito.

Sobre Paulo Portas, nada a acrescentar. O presidente do CDS vai chefiar os Negócios Estrangeiros e será o n.º 3 do governo. Dureza por dureza, tudo indica que Passos levou a melhor no ring.

Na noite em que o PSD ganhou as eleições, o pesadelo era imaginar um governo com o Senhor Pintelhos (Catroga), Mestre Cantiga (o Esteves), João Duque (o encrespado), Fernando Nogueira, Marques Mendes, Rui Ramos, Nogueira Leite, Santana Castilho e outros assim. Se virem a coisa por este lado...

posted by Eduardo Pitta
http://daliteratura.blogspot.com/

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