Aprender com a Islândia, Irlanda e Grécia para decidir o voto
Eis que a recusa do povo islandês em pagar a dívida privada aqui bem descrita por Jean Tosti começa a romper o bloqueio da imprensa portuguesa. Isto no mesmo fim de semana em que um cidadão irlandês publica um interessante “conselho de amigo” aos portugueses, alertando-nos para o facto de estarmos a seguir exactamente os mesmos passos que a Irlanda. Entretanto, na Grécia, desconfia-se que a tão falada dívida pública seja maioritariamente consequência de negócios ruinosos para o Estado, com lucros astronómicos para os privados – coisa que não será estranho que também tenha sucedido e continue a suceder por cá.
Ora, se há uma coisa que une estes três países são os significativos avanços eleitorais da esquerda anti-capitalista e, quanto mais à esquerda são os seus governos, mais rápida parece ser a sua recuperação económica.
Ao invés, em Portugal, os gabinetes de comunicação e sondagens preparam a eleição de Passos Coelho. Como aqui foi recordado, a mesma Marktest que a dois meses das últimas presidenciais anunciava 78,30% para Cavaco Silva e 0,7% para o candidato comunista aparece agora, a dois meses das eleições legislativas, a anunciar 53% para PSD+CDS e quebras significativas, por comparação com as últimas eleições, para BE e PCP. À luz do que se passa em países como a Islândia, Grécia ou Irlanda, será de prever que os partidos de esquerda avancem eleitoralmente, contudo, a Marktest não hesita em colocar PSD+CDS com uma percentagem histórica que, todos sabemos será extraordinariamente improvável, e a esquerda em perda.
Sejamos claros. A maioria das empresas de sondagens não pretende adivinhar o resultado e muito menos identificar rigorosamente um sentido de voto à data da sua elaboração. A maioria das empresas de sondagens pretende entrar no jogo político desempenhando um papel no cerco da bipolarização e, se é certo que ainda não votam, o seu impacto nas escolhas do cidadão eleitor não deve ser desvalorizado.
Imaginemos que os erros da Marktest eram noutro sentido, será que o resultado das eleições não seria outro?
O que poderia ter sucedido nas eleições presidências se a Marktest em vez de falhar 25 pontos percentuais no resultado de Cavaco Silva se tivesse enganado em 12,5 pontos percentuais no resultado do candidato comunista, dando-o como potencial segundo classificado à frente de Manuel Alegre?
O que sucederia se, nas sondagens para as próximas legislativas, PCP e BE começassem a surgir com valores somados de 25%, o que podia significar que nenhuma alteração constitucional podia passar sem o voto de uma das duas forças políticas ou que juntas somariam mais votos que o PS?
Não tenhamos dúvidas que as sondagens não são importantes pela sua capacidade de previsão, mas pelo ambiente que criam para a eleição. No actual contexto, por mais greves, protestos e manifestação de centenas de milhares de trabalhadores, tudo aponta para que se concentrem no anúncio da mudança de caras, entre PS e PSD, afirmando a manutenção do paradigma político existente.
Compete a cada um decidir se vai atrás das sondagens.
P.S. – Na caixa de comentários acrescenta-se, e bem, à lista de parvoíces que importa desmistificar, o último texto de Krugman sobre os planos de austeridade em Portugal.
27 de Março de 2011 por Tiago Mota Saraiva
http://5dias.net/2011/03/27/aprender-com-a-islandia-a-irlanda-e-a-grecia-para-decidir-o-voto/
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