O linchamento de Nobre no Facebook tem um lado de pura justiça poética ou deliciosa ironia do destino, onde o feitiço populista se vira contra o feiticeiro, mas tem outro que nos fala do amadorismo, ou mesmo retinta incompetência, do PSD. Embora não saiba nada do que se passa nos bastidores desse partido (ou de qualquer outro, já agora), sei pela lógica que o anúncio da sua cooptação foi combinado na data e no meio. Algures, Passos Coelho terá aceitado que assim fosse, e ninguém da sua equipa impediu a tonteira: ia-se para o Facebook provocar e ofender o eleitorado que tinha votado Nobre há dois meses. O efeito foi e está a ser devastador. A turbamulta da cidadania digital reuniu-se para a decapitação e desmembramento ritual de um Nobre de ego tão anafado que há muito deixou de ver onde põe os pés. E o Facebook oferece todos os meios para uma crise deste género se intensificar e prolongar no tempo – sendo que não se vislumbra uma estratégia de contenção de danos, pois qualquer tentativa de entrar em diálogo será combustível deitado na fogueira, por um lado, e ficar remetido ao silêncio irá aumentar o despeito e validar todas as críticas, incluindo as mais violentas, pelo outro.
Num primeiro momento, causa espanto ver o PSD, com tantos quadros e recursos humanos nas áreas da comunicação, a tratar uma jogada eleitoralista de alto risco de forma tão displicente e disciplinarmente errada. Mas depois, lá está, abate-se sobre a nossa consciência a crua realidade: este é o partido cujo braço-direito do líder é o Miguel Relvas, uma picareta falante à beira do esgotamento nervoso que até na SIC começa a ser gozada pelos jornalistas da casa. E quanto ao Passos Coelho, então, o problema ainda é maior: quando fala, desaparece. Assim, talvez tenha razão Nobre e aquela que pode ser uma táctica com secretos méritos – é que para se poder cascar no homem, tem primeiro de se carregar no botão “Gosto”. No final, apresentam-se os números e respectivo gráfico de crescimento dos fãs. Nobre voltará a poder reclamar um resultado histórico para a democracia, pedir que lhe dêem um tiro na cabeça ou perguntar a Manuel Alegre se é desta que desiste a seu favor; o que primeiro lhe passar pelo bestunto.
http://aspirinab.com/
Sem comentários:
Enviar um comentário