segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Renovação tecnológica
Portugal Tecnológico
24 Setembro2010 | 12:03
Leonel Moura - leonel.moura@mail.telepac.pt
Está na moda criticar um tal "deslumbramento tecnológico" que estaria na base do discurso e de muitas iniciativas do atual governo e de alguns setores da nossa vida empresarial e coletiva.
Da distribuição de computadores nas escolas à generalização da Internet na administração pública, tudo serve para lançar alertas contra os malefícios deste alegado súbito fascínio pelo tecnológico.
Para começar, não é certo que exista realmente qualquer tipo de deslumbramento. Viver no nosso próprio tempo não é uma fantasia, mas um imperativo civilizacional. Eventualmente toma-se por deslumbre a adesão imediata a tanta novidade, ou, a insistência na necessidade de mais e mais inovação. Acontece que uma das características das novas tecnologias é precisamente a sua incessante mutação. Ou seja, trata-se de um tipo de conhecimento que só se realiza plenamente através da sua própria superação. Vide, por exemplo, os telemóveis que com uma velocidade vertiginosa passaram de telefone a computador e de computador a interface com múltiplas redes globais.
Por outro lado, estamos perante uma tecnologia que a cada passo abre caminho para um mundo inexplorado de novas possibilidades. Estar atualizado é, por isso, uma condição essencial para se conseguir produzir algo de significativo, ou pelo menos, se fazer parte da conversa. Não se trata de deslumbramento mas de sagacidade e inteligência.
É claro que muita gente se dá mal com esta nova condição tecnológica. Conservadores na política, sobretudo e estupidamente os de esquerda; intelectuais parados no tempo; gente da cultura decadente; meros reacionários de todo o tipo. Contudo, é duvidoso que o asco tecnológico que tanto alimentam possa dar qualquer contributo positivo. Uma reflexão séria sobre as novas tecnologias e os seus efeitos nas vidas e na sociedade só pode ser feita a partir do entendimento pleno dessas mesmas tecnologias. Não é o caso da maioria dos críticos.
Sucede que entretanto os cães ladram e a caravana passa. A Feira do Portugal Tecnológico, que se encontra atualmente na FIL, em Lisboa, é bem reveladora do muito que se tem conseguido fazer, não com deslumbramento, mas com ambição, empenho e conhecimento. O salto é impressionante. Em poucos anos Portugal, de país dependente das ideias dos outros, passou a ser capaz de se colocar na vanguarda da inovação tecnológica em muitas áreas.
Muitas das ideias, invenções e produtos apresentados nesta Feira são inovações em qualquer parte do mundo. A maioria tem, por isso mesmo, vocação global. São, aliás, processos que envolvem empresas, universidades, investigadores e, amiúde, indivíduos e grupos simplesmente com uma boa ideia. Não só portugueses mas em cooperação com parceiros de todo o planeta, pois não há outra forma de realmente inovar. O caldo heterogéneo e combinatório é essencial para a evolução tecnológica atual. Nesse sentido, estas tecnologias são um contributo decisivo para quebrar o isolamento e contrariar a visão nacionalista e fechada que desde Salazar continua a afetar alguma mentalidade local, à esquerda e à direita.
Mas é no plano económico que os efeitos positivos são mais evidentes. A crise que Portugal atravessa, sendo financeira, é sobretudo de modelo de desenvolvimento. A insistência nos velhos mecanismos produtivos já provou que gera mais falências do que riqueza. As dores de adaptação são intensas, mas incontornáveis. Muito do nosso tecido produtivo está obsoleto. Muitas das nossas empresas e atividades são francamente anacrónicas. Só a renovação tecnológica permitirá dar o salto.
Enfim, não se trata de ficar deslumbrado com as novas tecnologias, mas de perceber que elas representam uma oportunidade única de modernização do país e sua participação ativa no curso das coisas do mundo. Quanto mais tempo se gasta em hesitações e resistências mais se perde em talento, criatividade e ímpeto civilizacional. Que não nos faltam. Basta visitar a Feira do Portugal Tecnológico.
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