domingo, 9 de maio de 2010

Carga de trabalhos

Os investimentos públicos e a "estratégia da aranha"…

A crise financeira portuguesa, i.e., as questões relacionadas com o deficit público e com o endividamento externo, determinaram mais um (relativo) afrouxamento do investimento público, nos que diz respeito às grandes obras.
Assim, o TGV, o novo aeroporto de Lisboa e a terceira ponte sobre o Tejo passaram – desde que o BCE, a Srª. Angela Merckel e as agências de rating “olham” atentamente para Portugal - a ser investimentos públicos em fase de reponderação e reanálise. Esta indefinida terminologia política significa que a sua adjudicação foi adiada. Para as calendas gregas, suponho.

Como investimento público, por ora, (ainda) remanescente fica parte do TGV, ao que penso o troço entre o Poceirão e Caia…
Esperemos que, ao menos, cumpra a sua finalidade primária. Isto é, conecte a capital do ex-império à rede ferroviária europeia…

Os grandes problemas político-económicos nacionais continuam a ser resolvidos fora das sedes próprias em democracia (Governo e AR) e, frequentemente, em contra-ciclo com os programas partidários e os compromissos eleitorais.

Evoca-se, para o efeito, a evolução da situação no terreno. Devia evocar-se – para sermos verdadeiros e concisos - o resvalar da nossa situação económica e financeira para um clima de insustentabilidade. Que, num País organizado, deveria obrigatoriamente ter integrado e condicionado o debate pré-eleitoral. Primeiro, prometemos, depois, analisamos. Finalmente, surge o descrédito da política (e dos políticos), a sua subjugação ao interventivo (e mais organizado) poder económico e por aí adiante…

Nesta situação estavam (deixaram de estar) os projectados investimentos públicos em infraestruturas de grande porte e, portanto, a exigir esforços financeiros adequados e, eventualmente, partilhados.

O Centro-Direita nacional (PSD/CDS), nas últimas eleições, iniciou um tenaz e persistente processo de obstrução gravitando à volta da oportunidade de investimentos públicos, com algum vulto. Fundamentalmente por não reconhecer - a esses investimentos - qualidades (ou utilidade) no sentido de poderem funcionar como instrumentos reanimadores ou estimulantes da economia e, simultaneamente, actuarem no controlo da persistente derrapagem do desemprego.

O Centro-Direita defende, outrossim, que o Estado (cujo papel não reconhece, nem valoriza) deveria, antes, “atirar mais dinheiro” sobre as empresas e, pacatamente, esperar que estas resolvessem uma outra vertente da crise: o crescimento.
O Centro-Direita, confia nas capacidades do tecido empresarial nacional, essencialmente por uma razão: como pertence à iniciativa privada, logo, merece todo o crédito e confiança. Mas, no tecido empresarial português, salvo raras e honrosas excepções, reina o amadorismo e o improviso.

Tais teses não tiveram vencimento nas urnas. Mas, face ao veredicto popular, o Centro-Direita, não ficou quedo, nem conformado.
É aqui que começam as manobras tácticas de bastidor, os lobbys a pressionar, a lenta - mas implacável – intromissão do poder económico nas áreas de decisão (política).

No âmbito interno, enviou a toque de caixa Passos Coelho, a São Bento, conversar com Sócrates para renegociar/acelerar o PEC (…depois, aos olhos da opinião pública, na AR, voltará a abster-se), paralelamente, o CDS vai a Belém para, discretamente, colocar no centro da contestação aos investimentos públicos o Presidente da República (criando um perplexo sistema de vasos comunicantes entre o PR e o Centro-Direita), para a semana - outra vez em Belém - vamos assistir ao arrebanhar, selectivo, de economistas e personalidades do mundo financeiro para influenciar a opinião pública (a emérita congregação de ex-ministros das Finanças) e, finalmente, o persistente exercício de uma capciosa pressão sobre o Banco de Portugal (as recentes declarações de Vítor Constâncio são – em certa medida - resultado deste permanente “forcing” e/ou a antecipação da cedência de José Socrates)…

No âmbito externo, Passos Coelho corre para Bruxelas ao encontro de Durão Barroso (que como uma púdica vestal defende não querer interferir na política doméstica) mas, para não perder o comboio, sempre foi dizendo que era necessário repensar investimentos,... etc.

Ninguém – publicamente - discutiu a capacidade de um esforço no investimento público (onde estamos na cauda da EU) poder vir a influenciar positivamente a retoma económica.

De certa maneira - no entender de um leigo nesta matéria - regressamos a uma saudosista “política de merceeiro” que nos perseguiu 48 anos. Só haverá legtimidade e oportunidade para investir quando existe dinheiro batido, em "cash".

Não percebemos como, por exemplo, fora da crise actual, mas num contexto de grandes dificuldades orçamentais, o XV governo constitucional (PSD/CDS), ousou encomendar submarinos, etc.

Parece que o Centro-Direita pressupõe que os negócios de Estado – como são os investimentos públicos – são uma área proibida à Esquerda, logo, sob a sua estrita reserva. Portanto, ficam “a marinar” à espera de melhores dias…, i.e., do regresso da Direita ao poder.

Se os defensores do neoliberalismo (como são os partidos do Centro e da Direita) tivessem pensado deste modo – há alguns anos atrás – não teríamos passado pela calamitosa crise financeira, económica e social que, actualmente ( e severamente), nos fustiga.

Nunca teriam existido os subprimes do mercado hipotecário imobiliário, a eminência de ruptura financeira das instituições bancárias (de crédito e de investimento) submersas em activos “tóxicos” – gerados pelo sacrossanto mercado “livre” -, uma prolongada recessão económica, um notório descalabro social, cujos aspectos mais visíveis serão a pobreza e o desemprego.

Esta a verdadeira “cascata de contágio” (termo que subitamente nos preocupa na área financeira)...

Mas - como se diz em Coimbra - é tarde,… Inês é morta.
Em resumo, independentemente da bondade ou não das decisões tomadas pelo actual Governo, o Centro-Direita (sem ter o ónus do exercício de funções executivas e com o alto patrocínio da PR), conseguiu, nesta última semana, impôr – em larga medida – a sua estratégia política, económica e financeira.

Logo veremos quem vai sofrer (e pagar) as consequências… políticas, económicas e - convem não esquecer - sociais!

posted by e-pá!
http://ponteeuropa.blogspot.com/

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