segunda-feira, 19 de julho de 2010

Laicidade

No seguimento da petição «Pela Escola Pública Portuguesa Laica», Carlos esperança deu a seguinte entrevista ao Diàrio ne Notìcias:


"Os símbolos religiosos servem apenas para dividir"

Como vê a ideia de uma petição a favor dos crucifixos nas salas de aula?

Essa petição vem ao encontro de uma escalada agressiva do catolicismo romano, à semelhança do islão, para impor a sua iconografia religiosa a todos. Na sequência, aliás, de um pontificado retrógrado como tem sido o de Bento XVI. Vem contra a Constituição, que afirma a laicidade do Estado. Por isso, uma iniciativa dessas merece um profundo repúdio e a maior das perplexidades.

Acha que proibir completamente a presença de símbolos religiosos na escola é uma atitude legítima?

A proibição é profundamente legítima. Até para evitar aquilo que foi uma tragédia na Europa ao longo de séculos: as guerras religiosas. Os símbolos servem apenas para dividir.

Mas neste caso quase todas as religiões estão unidas na defesa dos símbolos religiosos. O recurso do Governo italiano no Tribunal dos Direitos Humanos tem o apoio de países católicos e ortodoxos.

O proselitismo é uma tara congénita de várias religiões. Aliás, quando o ayatollah Khomeini [líder religioso iraniano] decretou a perseguição a Salman Rushdie, houve uma certa compreensão do Vaticano, do rabi de Jerusalém e do arcebispo de Cantuária (líder dos anglicanos). Nós, ateístas, não queremos converter ninguém e batemo-nos pela liberdade de crenças. Somos é contra a sua imposição no espaço público.

Mas esse afastamento do espaço público não pode ser sentido pelos católicos como uma perseguição?

Os católicos sentem-se atacados por causa das críticas aos crimes de pedofilia cometidos por padres e encobertos pela hierarquia e por causa de denúncias como as do livro Vaticano SA, que expõe o Vaticano como uma offshore. Quando os católicos forem impedido de fazer uma procissão, estaremos com eles na defesa do direito de o fazerem. Mas a ocupação permanente do espaço público não podemos permitir.

Não há lugar a compromissos?

O compromisso não é aceitável, primeiro porque a presença de crucifixos na sala de aulas é inconstitucional e depois porque o proselitismo exclui os ateus e os livres-pensadores. Não tenho nada contra o símbolo em si, há crucifixos magníficos.

Não concorda com o argumento de que se trata de um símbolo da identidade cultura portuguesa e europeia?

É a resposta de quem perdeu. Essa discussão já foi feita quando se discutiu a Constituição Europeia. A identidade e as democracias europeias são herdeiras da tradição greco-romana, do Iluminismo e da Revolução Francesa.

por: PATRÍCIA JESUS
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1617885

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