sábado, 10 de julho de 2010

justiça de fdp


Irão sai (num caso) da Idade da Pedra

O Irão já não vai matá-la à pedrada, talvez já só a mate por forca.

O Times londrino de ontem anunciava - da edição em papel, de manhã, à notícia ao fim da tarde, online - esse passo de gigante da civilização. Em 2005, Sakineh Mohammadi Ashtiani, de 43 anos, foi acusada de ter tido "relações ilícitas" com dois homens, na cidade de Tabriz.

Foi condenada a 99 chicotadas. Perguntaram ao filho, de 17 anos, se ele não preferia sair da sala. Ele disse que não: "Não queria deixá-la sozinha." Novo julgamento condenou Sakineh à morte, por lapidação. Depois disso, Sajad, o filho, continuou a não deixá-la sozinha. Fez várias viagens à capital, Teerão, pedindo misericórdia ao ayatollah Ali Khamenei, Líder Supremo do Irão - nunca foi recebido.

Com a revolução islâmica, em 1979, os religiosos introduziram a morte por lapidação no código penal.

A condenada é lavada, envolta num lençol e enterrada até ao peito - um círculo de homens atira-lhe pedras até ela morrer. Ontem, soube-se que o regime iraniano saiu, num caso pontual, da idade da pedra. Deve saudar-se sempre o movimento quando o contraponto é um corpo preso por um lençol, braços e pernas tolhidos na terra e, de livre, só o terror dos olhos à espera de pedras.

Hoje é o dia raro em que podemos passar pelo embaixador da República Islâmica do Irão em Lisboa e cumprimentá-lo. Efusivamente.

por FERREIRA FERNANDES
http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1614152&seccao=Ferreira

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