terça-feira, 20 de julho de 2010
Tòtò lopes
É, também se olha a quem diz
por FERREIRA FERNANDES
O colunista Daniel Oliveira lançou um repto no seu blogue (Arrastão): "Uma proposta: cortar a reforma que Ernâni Lopes recebe do Banco de Portugal desde os 47 anos. A cru e sem explicações." Alguns comentários, no blogue, criticam o colunista por em vez de discutir as ideias fazer "ataque pessoal" ao antigo ministro.
Nas recentes jornadas parlamentares do PSD, Ernâni Lopes propusera "cortar 15, 20 ou 30% dos salários dos funcionários públicos, a cru, sem explicar nada." Ignoro se as medidas draconianas de Ernâni Lopes seriam boas no combate à crise mas ele tem currículo que o torna merecedor de ser ouvido.
Por outro lado, é legítima a lembrança irónica de Daniel Oliveira. Se chegámos, hoje, ao ponto de cortar um quarto do salário de centenas de milhares de portugueses e esse acto brutal ser tão necessário que até pode prescindir de explicações, estranha-se a vida à tripa forra, ontem.
E este ontem não é dos tempos do ouro que vinha de Minas Gerais, mas 1989, quando Ernâni Lopes deixou o Banco de Portugal e pôde, aos 47 anos, auferir logo de uma reforma. O Banco de Portugal era, aliás, um mãos-largas: bastava ser administrador num só mandato (cinco anos) e ficava-se com uma reforma imediata e farta.
Esse abuso só acabou em 2006. Se calhar, se esses abusos tivessem sido cortados antes, talvez, hoje, Ernâni Lopes pudesse ser mais moderado. E mais ouvido.
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