terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Anestesiados
A sociedade portuguesa está anestesiada e as notícias sobre a redução das indemnizações em despedimentos mostram-nos uma esquerda cínica e sem futuro. Este País não é para novos e amanhã nem será para velhos.
Os trabalhadores servem uma empresa durante anos e, mal começam a ter cabelos brancos, passam à categoria de dispensáveis. São caros em comparação aos mais jovens, têm contratos inflexíveis e descontam para a segurança social. A sua vida familiar e as preocupações com filhos fazem-nos resistir à ideia de jornadas de trabalho demasiado longas.
A Economist da semana passada tinha um gráfico interessante sobre as exportações de alguns países em crise na Europa. Curiosamente, Portugal era o mais exposto à concorrência com a China, o que significa que muitas empresas tentam ser competitivas através dos salários baixos e do dumping social. Nós sabemos que há dois patamares de emprego, o dos precários e o dos fixos, com grandes injustiças salariais e uma geração mais nova forçada a ficar pouco tempo em cada emprego ou a aceitar condições miseráveis e temporárias. Apesar de terem mais formação, estes trabalhadores não chegam a ganhar experiência. Muitos vivem do desenrascanço. Outros 300 mil nem estudam nem trabalham.
Para flexibilizar o mercado laboral, o Governo aderiu à ideia da reduzir as indemnizações, tornando assim barato o despedimento dos trabalhadores mais antigos. O preço alto das indemnizações impedia esses despedimentos.
A meu ver, estamos no domínio da engenharia social. Isto só podia ser feito com pleno emprego e não com uma taxa de desemprego de 11%. Compreendo o argumento económico (há flexíveis e fixos, o que é injusto) mas a questão está no efeito da medida. O que fazer com os milhares de trabalhadores que serão despedidos por que isso se tornou subitamente conveniente e acessível para a sua empresa? Num contexto de concorrência chinesa, são redundantes. Num País onde o patronato não tem consciência social, ficam de repente vulneráveis.
Estas pessoas não terão idade para emigrar ou para reconversão laboral (ao contrário dos jovens), não têm descontos suficientes para a reforma e não terão trabalho, excepto eventualmente biscates precários para alguns deles. A solução para o problema de termos uma geração sem perspectivas será criar duas gerações sem perspectivas. Os jovens já são pobres e assim ficam, os velhos para lá caminham.
Tudo isto será feito em nome da crise financeira (porque os contribuintes precisam de ressarcir os banqueiros das suas lamentáveis perdas), por um Governo em pânico, dito socialista e de esquerda, com o ámen de sindicatos em vias de extinção e que têm os mesmos dirigentes desde que me lembro.
por Luís Naves
http://albergueespanhol.blogs.sapo.pt/
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