domingo, 23 de outubro de 2011

Negòcios...

Os portugueses estão a depositar muito dinheiro nos bancos. Poupam-no, transferem-no de outras aplicações, e lucram: as supertaxas estão a desafiar as leis da gravidade. Mas, como disse um banqueiro no Verão, "na guerra pelos depósitos, só existem perdedores, incluindo os clientes".

Estas palavras foram ditas pelo presidente do BCP ao "Oje", no final de Junho. Aí, Carlos Santos Ferreira explicava que depósitos caros levam a créditos caros. Mas há outros problemas, incluindo a erosão da rendibilidade, que depois pressiona os rácios de capital.

Sim, o mundo está ao contrário: agora preocupamo-nos com os baixos lucros dos bancos. É que já aprendemos que os prejuízos no sistema financeiro viram-se contra a economia e acabam financiados por contribuintes. Mas deixemos neste editorial a questão das necessidades de capital, que é ridicularizada pelos banqueiros como se todos excepto eles próprios fossem imbecis. Falemos apenas de liquidez.

Se tanto dinheiro está a ser depositado, isso quer dizer que os portugueses estão a poupar mais; que estão a transferir poupança (de fundos de investimento, acções ou certificados de aforro); e que confiam nos bancos. Óptimo. Mas nada disto estaria a acontecer desta forma desenfreada se não fossem pagas taxas de juro tão elevadas. E é isso que o Banco de Portugal quer travar. Lembra-se de quando o BPP caiu, quando muitos escreveram que os clientes deviam ter suspeitado de taxas de juro tão elevadas? Pois...

Neste momento, a Euribor está pouco acima dos 2% mas há bancos a pagar 6%, 7% e mesmo 8% de juros em depósitos. Uma taxa de juro é uma medida de risco esperado: quanto maior o risco, maior a taxa. Assim foi no BPP. Hoje, a questão é outra: falta liquidez, o seu preço aumenta. É o mercado a funcionar.

O mercado está a funcionar assim porque há um subsídio escondido: o Banco Central Europeu está a financiar lucros dos bancos com financiamento barato. E o Estado entrou no jogo quando decidiu o suicídio dos certificados de aforro.

Siga o dinheiro: o BCE empresta dinheiro aos bancos portugueses a taxas de 1%; com este "funding" tão baixo, os bancos podem pagar a outra parte do "funding" (os depósitos) a taxas anormalmente altas, pois o seu custo médio pondera as duas fontes; o Estado vê sair todo o dinheiro dos certificados de aforro para os bancos e, por isso, emite Bilhetes do Tesouro, que lhe saem mais caros; quem compra esses Bilhetes do Tesouro são... os bancos portugueses (sobretudo a Caixa, o BES e o BCP); depois os bancos descontam esses Bilhetes do Tesouro junto do BCE, em troca de mais financiamento. Confuso? Não fique: os bancos financiam-se no BCE a 1% e emprestam ao Estado a 5%, o que tem gerado centenas de milhões de euros de lucros nos bancos. E dá o incentivo perverso de aumentar taxas de depósitos, o que mais tarde vai reduzir a rendibilidade dos bancos e "comer" capital.

A banca não é coisa para anarco-comunistas. O desequilíbrio entre taxas de juro activas e passivas (ou seja, dos créditos cobrados e dos depósitos recolhidos) é um dos principais problemas no balanço dos bancos europeus. No princípio, é lucro. No fim, é prejuízo. E apesar de todos os Lehmans, BPP e Dexias, os bancos continuam viciados no curto prazo. Parece uma festa bizarra, em que os convivas dançam sem diversão. Pudera.

http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=513981

Sem comentários:

Enviar um comentário