
Estas palavras foram ditas pelo presidente do BCP ao "Oje", no final de Junho. Aí, Carlos Santos Ferreira explicava que depósitos caros levam a créditos caros. Mas há outros problemas, incluindo a erosão da rendibilidade, que depois pressiona os rácios de capital.
Sim, o mundo está ao contrário: agora preocupamo-nos com os baixos lucros dos bancos. É que já aprendemos que os prejuízos no sistema financeiro viram-se contra a economia e acabam financiados por contribuintes. Mas deixemos neste editorial a questão das necessidades de capital, que é ridicularizada pelos banqueiros como se todos excepto eles próprios fossem imbecis. Falemos apenas de liquidez.
Se tanto dinheiro está a ser depositado, isso quer dizer que os portugueses estão a poupar mais; que estão a transferir poupança (de fundos de investimento, acções ou certificados de aforro); e que confiam nos bancos. Óptimo. Mas nada disto estaria a acontecer desta forma desenfreada se não fossem pagas taxas de juro tão elevadas. E é isso que o Banco de Portugal quer travar. Lembra-se de quando o BPP caiu, quando muitos escreveram que os clientes deviam ter suspeitado de taxas de juro tão elevadas? Pois...
Neste momento, a Euribor está pouco acima dos 2% mas há bancos a pagar 6%, 7% e mesmo 8% de juros em depósitos. Uma taxa de juro é uma medida de risco esperado: quanto maior o risco, maior a taxa. Assim foi no BPP. Hoje, a questão é outra: falta liquidez, o seu preço aumenta. É o mercado a funcionar.
O mercado está a funcionar assim porque há um subsídio escondido: o Banco Central Europeu está a financiar lucros dos bancos com financiamento barato. E o Estado entrou no jogo quando decidiu o suicídio dos certificados de aforro.
Siga o dinheiro: o BCE empresta dinheiro aos bancos portugueses a taxas de 1%; com este "funding" tão baixo, os bancos podem pagar a outra parte do "funding" (os depósitos) a taxas anormalmente altas, pois o seu custo médio pondera as duas fontes; o Estado vê sair todo o dinheiro dos certificados de aforro para os bancos e, por isso, emite Bilhetes do Tesouro, que lhe saem mais caros; quem compra esses Bilhetes do Tesouro são... os bancos portugueses (sobretudo a Caixa, o BES e o BCP); depois os bancos descontam esses Bilhetes do Tesouro junto do BCE, em troca de mais financiamento. Confuso? Não fique: os bancos financiam-se no BCE a 1% e emprestam ao Estado a 5%, o que tem gerado centenas de milhões de euros de lucros nos bancos. E dá o incentivo perverso de aumentar taxas de depósitos, o que mais tarde vai reduzir a rendibilidade dos bancos e "comer" capital.
A banca não é coisa para anarco-comunistas. O desequilíbrio entre taxas de juro activas e passivas (ou seja, dos créditos cobrados e dos depósitos recolhidos) é um dos principais problemas no balanço dos bancos europeus. No princípio, é lucro. No fim, é prejuízo. E apesar de todos os Lehmans, BPP e Dexias, os bancos continuam viciados no curto prazo. Parece uma festa bizarra, em que os convivas dançam sem diversão. Pudera.
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