quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O homem da raça


Cavaco – Um trajecto de vida

Um jovem que não tem pudor em revelar à PIDE, de motu proprio, a animosidade para com a mulher do sogro, que aceita bem a ditadura, e que, às duas testemunhas pedidas para atestar o seu comportamento, acrescenta outra, da União Nacional, revela que se conduz pelos caminhos vulgares de quem trata da vidinha. É a norma, não a excepção.


É a essa luz que deve ser vista a concessão de uma pensão por serviços prestados à Pátria, a dois pides, enquanto a negava a Salgueiro Maia, quando foi primeiro-ministro. É a essa incultura cívica que deve ser atribuída a indiferença perante o acto de censura perpetrado pelo seu sub-secretário de Estado, Sousa Lara, a um livro de Saramago. É a amoralidade do «rapaz comum» e a não formação conveniente da personalidade que explicam o silêncio que ainda mantém sobre a mais grave canalhice praticada no regime democrático – o caso das escutas –, impedindo que se averigúe a sua responsabilidade na tentativa frustrada de derrubar o Governo pela calúnia e intriga.


Se a iliteracia o atira para o anedotário nacional, com os erros de ortografia ou com o desconhecimento de Camões, é a conduta ética que deve fazer reflectir os eleitores no próximo domingo.


Admitamos que nunca suspeitou de interesses próprios nos perdões fiscais de Oliveira e Costa, durante o seu Governo, que não imaginou as fraudes da SLN, que não desconfiou da lavagem de dinheiro do BPN numa qualquer offshore, que foi acaso da sorte o lucro das acções do BPN, mas a compra de uma vivenda na aldeia da Coelha, com contornos tão nebulosos, com os vizinhos que tem e a justificação de que não sabe das escrituras das suas aquisições imobiliárias, é uma trapalhada capaz de envergonhar o cargo a que se propõe de forma tão grave como no caso das escutas. Portugal está perante o maior escândalo financeiro do período democrático, com risco de só conhecermos a ponta do iceberg e de ver associado o nome de um PR.


Cavaco tem 48 horas para esclarecer o País. Se o não fizer, pode ser reeleito PR mas o respeito a que a Constituição obriga os portugueses torna-se uma violência intolerável.


As escutas, as negociatas das acções do BPN e a aquisição da casa da praia da Coelha através de nebulosas permutas e com uma matriz da propriedade referida no Tribunal Constitucional, que não está nos registos notariais, são demasiadas nódoas no pano de um PR que se reivindica imaculado. E se cala.


O mísero professor só abdicou da docência.

Ponte Europa / Sorumbático

posted by Carlos Esperança

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